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Giardíase
Mesmo com o uso mais frequente de vermífugos, temos visto diariamente muitos casos de giardíase, que é hoje a doença entérica mais comum na rotina de clínicas e hospitais veterinários.
Giárdia é um protozoário que parasita o intestino, principalmente delgado, de mamíferos (incluindo o homem), anfíbios e aves.
Transmissão: O hospedeiro se infecta por transmissão fecal-oral, que é feita através da ingestão de alimento ou água contaminada com cistos do parasito. A coprofagia, comum em animais, é uma via significativa de autoinfecção e amplifica a disseminação da enfermidade.

A Giárdia tem maior incidência em estações do ano em que a temperatura é mais fria, devido à grande resistência dos cistos a ambientes frios e úmidos.
O que se observa é uma maior sensibilidade de animais jovens, por apresentarem sistema imunológico não totalmente amadurecido. É considerado ainda que o comportamento dos filhotes que facilita a contaminação já que eles têm contato mais frequente com todo tipo de material que pode estar contaminado por cistos.
Na maioria dos casos, os animais adultos são portadores assintomáticos, favorecendo a eliminação de cistos no meio ambiente, podendo contaminar outros animais e o homem
Período de incubação e incidência: O período de incubação da giardíase é de uma a três semanas. Uma vez ingeridos, os cistos de Giardia podem ser eliminados nas fezes cinco a dezesseis dias mais tarde e a eliminação pode durar em média 35 dias. Ainda podem permanecer subsistentes na água de rios ou lagos por até 84 dias.
Estudos em cães revelam que cerca de 10-20% dos animais bem tratados são acometidos pela doença, sendo que a maior prevalência ocorre em animais jovens 20-50%, e em canis este índice pode chegar a 100%. No Brasil a prevalência de Giardia em cães varia de 32-80% dependendo da região.
Sintomas: A diarréia é a manifestação mais comum e vem acompanhada de dor abdominal, podendo acontecer de forma aguda, crônica ou em surtos intercalados com defecação normal. As fezes são pastosas ou liquefeitas e mal cheirosas, geralmente claras e acinzentadas, podendo conter muco. A diarréia é geralmente auto-limitante, raramente apresenta sangue ou pus.
Diagnóstico: Os cistos de Giárdia podem ser detectados nas fezes por inúmeros métodos. Os mais tradicionais de identificação envolvem: exame direto de esfregaço fecal, ou concentração fecal por acetato-formalina e sulfato de zinco, seguido de exame microscópico. Recomenda-se analisar três amostras, já que os cistos são excretados de forma intermitente.
Atualmente, tem-se utilizado o teste de ELISA, que devido à sua grande sensibilidade, consegue detectar os antígenos de Giardia nas fezes mesmo que o animal não esteja eliminando cistos no momento do exame. Este exame é rápido e, tendo-se o kit no consultório, o resultado sai em até 10 minutos.
Prevenção e tratamento: O fato de que o estado imune do hospedeiro influencia a susceptibilidade à infecção e a severidade dos sinais clínicos, associado à alta prevalência da doença em animais, fez com que se desenvolvesse uma vacina contra a Giardia.
Em estudos comprovou-se que:
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a vacinação foi capaz de prevenir tanto a colonização do intestino quanto eliminar os trofozoítos ;
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nos animais vacinados desafiados um ano após a vacinação, não foi observada diarreia e alguns animais eliminaram poucos cistos por um período curto, ao redor de sete dias. Isso comprova que a vacinação diminui os sintomas caso ocorra infecção e diminui também o período de eliminação e a quantidade de cistos, ajudando no controle ambiental.
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mesmo cães vacinados quando desafiados podem ter eliminação de cistos de Giardia nas fezes.
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cães previamente infectados não se beneficiam dos efeitos da vacina, e continuam eliminando cistos nas fezes
Para tratamento, atualmente preconiza-se a desinfecção ambiental com produtos à base de amônia quaternária e algum dos seguintes medicamentos:
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metronidazol: tem aproximadamente 67% de eficácia em cães e 100% de eficácia em gatos. Possui efeito teratogênico e por isso não deve ser usado em fêmeas prenhes. É interessante a associação de drogas ampliando o espectro de ação, como por exemplo, a associação de metronidazol com a sulfadimetoxina.
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albendazol: tem eficácia de 90%, mas é potencialmente tóxico, causando mielosupressão. Também há suspeitas de que seja teratogênico não sendo indicado para gestantes.
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fembendazol: apresenta mais de 90 % de eficácia e pode ser usado em animais prenhes, além de não causar efeitos colaterais como diarréia.
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associação de febantel-praziquantel-pirantel é muito usada por causa da ausência de efeitos colaterais e da eficácia elevada.
A administração prévia de probióticos revelou-se capaz de reduzir a taxa de infecção de animais e a excreção de antígenos de Giárdia nas fezes, sendo que há uma evidência científica de que os probióticos podem constituir uma alternativa na prevenção dessa parasitose.
Conclui-se que a giardíase é uma zoonose de difícil prevenção, mas que pode ser facilmente diagnosticada. O tratamento pode ser feito com uma boa gama de produtos e a desinfecção ambiental é primordial!